gazeta da dor

eu comecei terapia. alguns assuntos não couberam em 50 minutos. outros, não ousei falar.

acontece que resta pouco de mim. dano irreversível. metade de mim me quer morta e a outra metade é fraca. eu cansei de pedir socorro. as minhas forças acabaram.

(me salve de mim mesma)

pro meu amor:

você era doce. costumava agir como se eu fosse a coisa mais incrível que você já tinha visto na vida. eu não gostava de você, me desculpe. eu devia ter sido sincera. eu nunca deveria ter te beijado. eu só estava surtando. é assim que eu sou.

eu dei mancada. fiquei com outras pessoas. aceitei namorar, porque você queria. me desculpe. eu fingi estar bem e quando não estava, esperei a salvação de uma pessoa tão perdida e alucinada quanto eu.

depois eu amoleci e acreditei em cada palavra sua. acontece que você tem duas caras e você sorteia qual você quer usar comigo de tempos em tempos. to cansada. desculpa :/

você me seguiu sem que eu soubesse, olhou minhas mensagens, me chamou de mentirosa. você não confia em mim, e disse que já não se importa, então porque me quer por perto?

eu sei que ninguém no mundo se importa comigo. eu também sei que você foi o único que fez alguma coisa. mas -veja bem, para que eu não pareça ingrata-, de que me vale se isso me torna prisioneira e me afasta cada vez mais de quem eu sou?

você não gosta dos meus amigos, você não gosta da minha família, você me xinga toda hora. você me chama de nomes que eu não gosto e mente na minha cara. você não confia em mim. você não planeja nada comigo. você não me leva à serio.

você acredita piamente que eu devo me redimir. e as suas mentiras? e sua grosseria e relapsidade? você se esquece, amor. porque quem bate, esquece mesmo. quem apanha não. eu estava convicta da última vez que terminei com você. eu fui firme e fiz até uma lista com os motivos para que eu não me sabotasse. eu até fiquei com outra pessoa logo em seguida pra ver se esquecia mais rápido.

acontece que eu fiquei sozinha e me sujeitei novamente.

se te machuca, não é amor. se te fere, não é amor. se te derruba, nunca será amor.

você confunde as coisas. me confunde com uma santa. com uma empregada doméstica e com uma cozinheira. com uma mãe e como uma sombra. sim eu sou ingênua. vivo tentando me convencer de que “se superar tudo isso, significa que sou extraordinária”; esqueço de me perguntar se eu quero lidar com isso.*

eu não tenho cura. eu já sabia disso há muito tempo. eu não tenho força pra me tratar sozinha. eu não tenho mais ninguém.

você pegou o meu pior lado e absorveu pra você. o lado doente, o lado irado, depressivo e atordoado. você complementou a sua loucura com a minha e se afundou de vez.

estamos sozinhos, nós dois. duas pessoas sozinhas na mesma sala, fingindo que se amam. se detestam, fazem mal um pro outro e mesmo assim não conseguem se largar. será que o que nos prende é a similaridade de nossos transtornos?

somos parecidos, sim mas somos extremamente diferentes. eu te garanto.

eu não quero mais sentir isso. não quero mais causar isso em alguém. minha intenção nunca foi ensinar alguém a ser assim. deus, o que eu fiz?

culpa, raiva, vergonha, medo, dor, tristeza. é um misto de tudo isso todos os dias. e eu fico paralisada. no dia seguinte, tudo outra vez.

querida psicóloga, eu espero que você me salve. é a minha última esperança. eu realmente torço pra que dê certo porque eu não tenho mais opções.

como é que cabe tanta dor no meu peito?

À você, querido, eu desejo cura. eu desejo a sua melhora assim como almejo a minha. Para além disso, não sei. Jamais passei desse ponto (estamos no mesmo barco).

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